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domingo, 27 de maio de 2012

staring at the sun

Light and Colour (Goethe´s Theory) The Morning after the Deluge, Moses Writing the Book of Genesis, 1843

O artista plástico inglês Joseph Mallord William Turner (1775-1851) é considerado um dos precursores do Impressionismo e, também, o primeiro pintor de vanguarda da história. Isso devido ao tratamento que o artista dava às cores e à luz e ao modo em que suas últimas obras transgrediram o modelo tradicional da visão humana.

Até o século XIX, acreditava-se que o modelo da visão humana era análogo ao da câmara obscura. A percepção visual, a partir desse princípio, pressupunha, entre outros fatores, a posição estática e interiorizada de um sujeito observador separado de um objeto observado. Estranhamente, as últimas pinturas de Turner deixaram de apresentar essa costumeira distância entre o sujeito e o objeto. No quadro, Light and Colour (Goethe´s Theory) – The Morning after the Deluge – Moses Writing the Book of Genesis, de 1843, por exemplo, podemos notar a experiência de um olho que olha diretamente para o sol. Percebemos, assim, a luz do sol penetrando no corpo humano e provocando uma proliferação de cores incandescentes.

As pinturas de Turner sempre foram dominadas pela imagem do sol, mas, em suas últimas obras, o sol e o olho se fundem. A estrutura circular do quadro mimetiza a forma do sol e, também, corresponde à pupila do olho e ao campo da retina no qual a experiência temporal da imagem se desdobra. Para o artista, o sol passou a pertencer ao corpo humano e o corpo humano passou a assumir o controle dos efeitos visuais causados pelo sol.

Angel Standing in the Sun. J.M.W. Turner, 1846

A obra Angel Standing in the Sun, de 1846, também expõe a consciência de Turner da “corporalidade” da visão, ou seja, do corpo como local de produção dos eventos cromáticos. Essa percepção permitiu que o artista concebesse seus últimos quadros a partir de uma experiência óptica abstrata em que a visão não correspondia aos objetos do mundo exterior. Novamente, a estrutura dessa obra é insistentemente circular e encerra um vórtice de pura luz dourada. Como no exemplo anterior, temos a percepção da imagem em seu desdobramento temporal no campo da retina. Isso indica não apenas a fusão entre olho e sol, mas, acima de tudo, a fusão entre sujeito e objeto.



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