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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Bernini: a experiência da carne

Bernini é considerado, ao lado de Michelangelo, um dos maiores expoentes da história da escultura. As esculturas do artista possuem uma expressividade nos rostos e um movimento que superam a elaboração de Michelangelo.


Dafne e Apolo

Em Dafne e Apolo, podemos notar a habilidade de Bernini em inserir o observador na ação. Vemos o modo desesperado em que Dafne tenta fugir de um Apolo alucinado e como a cena é captada no exato momento em que a ninfa é transformam num loureiro, por Peneu,  para protegê-la.

Persephone


As estátuas de Bernini eram tão sensuais que se dizia que eram capazes de despertar o desejo em qualquer ser humano que as observasse.


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

poesia eletrônica: negociações com os processos digitais

ANTONIO, Jorge Luiz. Poesia Digital: negociações com os processos digitais: teoria, história, antologias. São Paulo: Navegar Editora; FAPESP. Columbus, Ohio, EUA: Luna Bisonde Prods. Itu, SP: Autor, 2010. Acompanha 1 DVD.

Resenhado por Patrícia Ferreira da Silva Martins

            Escrever sobre a poesia digital não é tarefa nada fácil. As dificuldades se impõem a partir das controvérsias em relação às fronteiras que envolvem o conceito de poesia digital e à multiplicidade de termos usados para definir aspectos dessa poesia relativamente nova. Há, ainda, o problema da infinidade de procedimentos que constituem essa prática e, consequentemente, da proliferação contínua de exemplos de poesias ligados a esses inúmeros procedimentos. Além disso, não podemos deixar de mencionar a questão da escassez de referências sobre o tema.
            Em Poesia Digital: negociações com os processos digitais: teoria, história, antologias, no entanto, o doutor e mestre em Comunicação e Semiótica Jorge Luiz Antonio consegue dar conta dessa tarefa de maneira clara, até mesmo para o leitor não iniciado, sobretudo pela organização da estrutura em que o estudo se desenvolve, com capítulos que formam planos complementares, e pela linguagem acessível utilizada pelo autor, que oferece, ademais, o auxilio de um glossário para os casos mais complicados. Aos estudiosos da área, a obra oferece uma rica antologia internacional de textos teóricos, uma antologia de poemas e outra antologia de poemas comentados de acordo com tipologias específicas, além de uma bibliografia que oferece subsídios para o estudo do assunto sob os mais diferentes pontos de vista.
            Esta é a segunda edição revisada do livro/CD-ROM Poesia Eletrônica: negociações com os processos digitais, publicada em 2008, que constitui a tese de doutoramento do autor, de 2005. Em edição bilíngüe (inglês/português), o livro/DVD pode ser lido em hard copy e, simultaneamente, acessado em suas páginas eletrônicas, armazenadas no DVD. A apresentação em forma impressa e digital é fundamental para abarcar a quantidade de informação necessária para a compreensão da poesia digital — computadas as páginas impressas e eletrônicas do livro/DVD, somam-se cerca de 1500 páginas. As páginas eletrônicas oferecem ao leitor acesso rápido aos mais diferentes exemplos de poesia digital, em cores ou p&b, nos arquivos locais (DVD) ou via Rede (WWW). Essa flexibilidade de acesso e capacidade de espaço, favorecidos pelo formato digital, posiciona o trabalho de Jorge Luiz Antonio um passo à frente do não menos importante estudo Prehistoric Digital Poetry: an archaeology of forms, 1959-1995 (Tuscaloosa, University of Alabama Press, 2007), de Chris Funkhouser.
            É importante ressaltar que a obra permite novas inserções, correções, comentários e alterações realizadas com a ajuda do leitor (ciber/leitor), o que a torna uma obra interativa, hipertextual, in progess e in process. Por essa razão, o autor criou um blog <http://jlantonio.blog.uol.com.br>, para que o leitor se intere de todas as alterações realizadas. Essas características, entre outras, mostram a força surpreendente do livro/DVD ao dar um estímulo indiscutível para o leitor interessado.
            O livro/DVD pode ser descrito como um estudo documentado e uma história analítica da poesia digital, com especial destaque ao trabalho de poetas, tanto do Brasil como do exterior, que têm usado a tecnologia na criação de uma nova estética. Entre estes poetas, destaco o resgate que o autor faz do poeta e engenheiro brasileiro Erthos Albino de Souza (1932-2000), com a inclusão de dois poemas precursores da poesia digital no Brasil, “Le Tombeau de Mallarmé” (1972) e “Ninho de Metralhadoras” (1976), criados com o auxílio de um supercomputador, e do mais recente “Cidade/City/Cité” (1985).
            O estudo de Jorge Luiz Antonio é dividido em três partes: teoria, história e antologias, que se desdobram em oito capítulos: I - poesia e tecnologia: tecnopoesia; II - poesia, arte, ciência e tecnologia; III - cronologia; IV - poesia eletrônica; V - poesia e computador(es); VI - tipologia e exemplos comentados; VII - antologia de poesias; e VIII - antologia de textos teóricos.
            A capa do livro apresenta o infopoema “Az Cor”, do poeta português E. M. de Melo e Castro. A imagem que pode ser vista animada, a partir da opção “start” do DVD, é suficiente para que o leitor tenha uma noção prévia das mutações e transmutações sofridas pela palavra no contexto digital e, consequentemente, das mediações e negociações do poeta com as tecnologias.
            Esta obra enriquece uma bibliografia ainda restrita acerca de um processo que tem origem antes mesmo do surgimento do computador na poesia das vanguardas, poesia concreta, visual e experimental. Na antologia de poemas, selecionada pelo autor, é possível traçar todo esse percurso da “pré-história” da poesia digital. A partir do século XIX, essa poesia sofre transformações devido ao surgimento de tecnologias como a fotografia, o rádio, a televisão, o vídeo, a holografia etc., migrando, posteriormente, para as tecnologias computacionais.
            É com o uso das tecnologias computacionais que tem início a história propriamente dita da poesia digital, especificamente, no ano de 1959, com o texto estocástico, ou de variação randômica, de Theo Lutz (1932-2010) — a quem o autor merecidamente dedica sua obra —, e chega até os dias atuais, período posterior ao surgimento dos protocolos da Internet e da World Wide Web (WWW).
            Das negociações semióticas do poeta com as tecnologias e das relações das linguagens artísticas, poéticas e tecnológicas, como enfatiza o autor, emerge a poesia que circula atualmente, entre diversos meios, pelo telefone celular, computador, Internet e WWW. Esta poesia mantém seu elo com os tipos anteriores de poesia (oral, manuscrita, impressa etc.) pelo uso da palavra como seu elemento motivador. Entretanto, não se trata apenas de uma adequação direta da poesia aos novos suportes; o autor demonstra que há todo um percurso da poesia para realizar as mutações e transmutações necessárias para que a função poética predomine nesses novos meios.
            A poesia digital, segundo Jorge Luiz Antonio, é configurada pelo uso da palavra, imagem estática e/ou animada, som, hipertextualidade, hipermídia e interatividade, formatada pela linguagem de programação do computador. A presença da palavra nessa nova poesia não implica no predomínio da semântica verbal. Nela, elementos de todas as linguagens operam no estabelecimento dos significados. A partir dessas constatações, o autor nos leva a entrever a possibilidade até mesmo de se pensar num “alargamento” do próprio conceito de literatura, especificamente da poesia, na contemporaneidade.
            Os mais de 500 exemplos de poemas levantados no estudo levam o autor a afirmar que o crescente uso das tecnologias digitais por parte de poetas de diversos países evidencia a existência de um movimento internacional descentralizado e em expansão. Esses vários exemplos mostram também que o termo poesia digital, como o vemos no título do livro/DVD, só pode ser utilizado de maneira genérica. Sendo assim, o autor não deixa de discutir e colocar em questão esta e tantas outras denominações que vêm sendo atribuídas a essa prática poética.
            Segundo Jorge Luiz Antonio, as denominações se multiplicam em meio aos mais diversos procedimentos de criação. O estudo mostra que a proliferação de termos e denominações se deve às constantes transformações da tecnologia. A cada mutação da tecnologia, surgem novas denominações, tais como “poesia computacional”, “tecno-arte-poesia”, “poesia eletro-eletrônico-digital”, “poesia das novas mídias”, “poesia eletrônica” etc.
            Não poderíamos terminar sem dizer que Poesia Digital: negociações com os processos digitais: teoria, história, antologias é um estudo consistente, de grande fôlego e muito bem arquitetado. A constatação do autor da existência de uma poesia que está interagindo e intervindo na linguagem computacional com o propósito de criar uma linguagem poético-computacional, aponta não para a “tecnologização” da literatura, mas para uma revolucionária poetização da técnica.
            Vale a pena ler o livro/DVD de Jorge Luiz Antonio, assim como vale a pena revisitá-lo como um constante material de referência.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

david salle: apropriação e pós-produção

David Salle (1952 -  )

O pintor americano, David Salle, é conhecido pela apropriação de imagens de revistas, fotografias pessoais, pornografia etc., que são combinadas de modo aleatório, não como colagens, mas na forma de grandes pinturas.


O artista reflete sobre a preocupação com a identidade individual num mundo inundado por imagens. 


Em geral, não há uma ligação lógica entre as imagens, que podem ser sobrepostas, transparentes ou contornadas por linhas e formas geométricas.