Patworkpat,
pseudônimo e marca da artista plástica Patrícia Ferreira, é centrada no desenho
da figura humana e na experimentação com diversas técnicas e materiais. Com a
série “desenhos desesperados para viver momentos difíceis”, a artista
apresenta um exercício estético e psicológico, em vermelho e preto, que explora
a possibilidade da transformação da dor em reflexão.
Vasos, silêncios,
olhares, falanges, dentes, fios, vértebras, gestos, encontros, abandonos,
abismos, abraços, gritos, riscos agudos, cores fortes, sons extremos. Os
desenhos de Patworkpat nos questionam e também nos respondem, mas são
labirintos instáveis. O corpo penetra a dor ou a dor penetra o corpo? Parece
que, de dentro da dor, reconhecemos nossos membros. Seja na voz por trás da mão
que cobre a boca, seja nas linhas finas que mumificam o corpo, seja no grito
trancafiado no negro, seja nos dentes que mordiscam limites.
Entre o contato
íntimo com esse nu de nós, olhares inquietantes circundam o que ficou dos marcadores
permanentes, lápis de cor, canetinhas, nanquins, um cotidiano de tantas dores
que adormecemos nas falas, nas aparências, quem sabe até nos olhares. Mas os “desenhos
desesperados para viver momentos difíceis” parecem querer dizer. O que
queremos ouvir? São secretas as suas histórias. O que contamos das nossas?
Podíamos ousar
dizer que, quanto mais próximos dos vãos que deixaram os traços, mais cúmplices
do que não há para dizer. Talvez seja abraçando a dor que se reconheça o
alento. Talvez seja mutilando-a que se contorne o silêncio. Quem sabe arrancar
o dente que mastiga mal as palavras quando a boca inteira lateja? Quem sabe encontrar
a saída quando o túnel todo é escuro? Quem sabe, da foz, curar a fonte das próprias
hemorragias?
O que parecemos
des-cobrir nos desenhos de Patworkpat parte de lugares em que entramos ora
imprudentes, ora cautelosos. De qualquer forma, corajosos. Não é fácil pisar no
chão onde dormem (o que sonham?) nossas penas, nossos medos, nossos desesperos.
A natureza selvagem pede passagem (entramos?). Entre o medo da morte e o desejo
do fim, a margem tantas vezes se esconde. E há inúmeras v(e)ias.
É que a dor bate,
mas, muitas vezes, oferece a outra face. Porque pede a nossa conduta. O corpo é
de toques e também de ossos. É de dedos e de artelhos. É de voz e de mudez. Como
reconhecer de onde vazam os sentimentos? Como suturar o que contorna
terminações nervosas, estímulos, (suss)urros? Somos humanos em tempos difíceis.
Não temos domínio da vida. E de nossos rebentos? Cicatrizes.
Quem sabe o que os “desenhos
desesperados para viver momentos difíceis” sulcam no papel e em nós seja
mais que relevos. Quem sabe, com seus olhares contornando o dentro, possamos
chegar onde moram nossos próprios relentos, e aprender com eles. Quem sabe,
levantando perguntas disformes e rubras, cheguemos ao osso, ao som, à voz. Quem
sabe o que a nossa dor diz ou derrama, ou desmaia, ou levanta, ou sustenta?
Somos nós, a penas. E o que dizer, então, senão o que o indizível da dor nos
desenha? As cicatrizes, que nos contam – ou cortam. Trouxeram coragem?