Paul Gauguin, “D’où
venons-nous ? Qui sommes-nous ? Où allons-nous?” (1897)
Paul
Gauguin foi um tradutor. O pintor, como Nicholas Bourriaud observa, não explora
o território polinésio como um etnólogo, ele o traduz. O monumental “De onde
viemos? Quem somos? Para onde vamos?”, de quase quatro metros de comprimento, por
exemplo, trata pictoricamente do encontro do artista com o contexto cultural no
qual se instala. Gauguin não introduz motivos autóctones na pintura ocidental,
mas rompe com ela ignorando a linearidade temporal dominante no sistema pictórico
ocidental. De acordo com uma convenção, pelo menos até o século XX,
um quadro deveria ser lido como se lê um texto, o passado figurando à esquerda,
e o futuro, à direita. Gauguin destrói as regras da composição clássica
situando o recém-nascido à direita do quadro, uma mulher idosa embaixo, à esquerda,
e, no centro, no primeiro plano, a imagem de um adorador. “De onde viemos? Quem
somos? Para onde vamos?” revela um universo sem origem ou fim determinados. É,
ao mesmo tempo, um manifesto anticristão e antiescatológico, emanado pela ideia da harmonia natural e da circularidade do tempo.
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