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quarta-feira, 6 de junho de 2012

De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos? ou um quadro não é um livro

Paul Gauguin, “D’où venons-nous ? Qui sommes-nous ? Où allons-nous?” (1897)

Paul Gauguin foi um tradutor. O pintor, como Nicholas Bourriaud observa, não explora o território polinésio como um etnólogo, ele o traduz. O monumental “De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?”, de quase quatro metros de comprimento, por exemplo, trata pictoricamente do encontro do artista com o contexto cultural no qual se instala. Gauguin não introduz motivos autóctones na pintura ocidental, mas rompe com ela ignorando a linearidade temporal dominante no sistema pictórico ocidental. De acordo com uma convenção, pelo menos até o século XX, um quadro deveria ser lido como se lê um texto, o passado figurando à esquerda, e o futuro, à direita. Gauguin destrói as regras da composição clássica situando o recém-nascido à direita do quadro, uma mulher idosa embaixo, à esquerda, e, no centro, no primeiro plano, a imagem de um adorador. “De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?” revela um universo sem origem ou fim determinados. É, ao mesmo tempo, um manifesto anticristão e antiescatológico, emanado pela ideia da harmonia natural e da circularidade do tempo.

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