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domingo, 1 de abril de 2012

computer poetry

"dentro do momento": patrícia ferreira, wilton cardoso, frederico martins - di(per)versões eletrônicas

A mídia digital se refere tipicamente ao hardware e aos softwares usados para construir e controlar a escrita, os sons e as imagens no computador. Essa é uma forma de comunicação via tecnologia de computação. Por mais de cinquenta anos, vários pesquisadores tem utilizado o computador para gerar e apresentar novas formas de poesia.

As primeiras tentativas de se criar poesia com o auxílio do computador começam em 1959 com Theo Lutz. Ele criou o primeiro exemplo de Computer Poetry, poema por computador, na Alemanha. Seu texto Stochastische foi feito através de um programa de geração de texto, num computador Zuse Z22. Max Bense, teórico alemão que publicou um dos primeiros artigos sobre poesia gerada por computador, foi professor de Lutz. Bense sugeriu o uso de um gerador de números randômico para criar textos em que as palavras são determinadas aleatoriamente. A ideia era aplicar ferramentas matemáticas e cálculo para trabalhar com a linguagem. Lutz criou uma base de dados com 16 palavras e 16 frases retiradas do conto “O Castelo”, de Kafka. Cada um desses elementos foi numerado, assim, o programa de Lutz gerou randomicamente uma seqüência de números e conectou palavras e frases usando constantes lógicas para criar a sintaxe. O método de Lutz pode teoricamente gerar cerca de 4 milhões de versos.

A exploração na área de randomização de texto continuou no início dos anos 60, na Europa e nos Estados Unidos. Alguns dos poemas produzidos nessa época foram chamados de Auto-Beatnik. Neles, o interessante é que o programa gerador de poesia é capaz de simular uma corrente de influência Beatnik. Os poemas Auto-Beat não revelam sensibilidade, mas refletem (simulam) um fluxo de consciência presente em muitos poemas Beat.

No final dos anos 1960, os esforços voltaram-se, também, para a produção de poesia digital gráfica. Um exemplo desse tipo de trabalho é o programa escrito por Marc Adrian (Áustria) que foi apresentado na exposição Cybernetic Serendipity. Neste poema, o computador monta palavras usando 1.100 símbolos (palavras, letras ou grupos de palavras) colocando 20 palavras por vez na tela do computador. Os elementos gráficos, neologismos e palavras sobrepostas, criados pelo programa de Adrian, não eram novidades na poesia, o Futurismo, o Dadaísmo e a Poesia Concreta já faziam isso sem o auxílio do computador. Mesmo assim, o experimento de Adrian é considerado interessante em termos de usar o computador para descentrar linguagem e significado, desafiando o leitor a construir um entendimento do texto que eles ajudaram a criar.

A partir daí, surgiram as primeiras ferramentas sofisticadas para a criação de poemas gráficos no computador. Baseada na mídia visual, que começou a se desenvolver nos anos 1960 e 1970, surgiu a vídeopoesia. Ernesto Manuel de Melo e Castro (Roda Lume, 1968) e Richard Kostelanetz (Three Prose Pieces, 1975) foram os primeiros a produzir vídeopoemas, seguindo um caminho que foi continuado por muitos outros poetas e pesquisadores, particularmente na era da World Wide Web. Os experimentos de Melo e Castro e Kostelanetz, usando texto em videoteipe, representam outro passo na produção da vídeopoesia. Este uso da tecnologia iniciou um período de trabalhos visuais cinéticos que continuam até hoje.

Quando o hyperlink materializou-se, nos anos 1980, a poesia digital se expandiu de todas as formas. No Brasil, Arnaldo Antunes, Julio Plaza e Ricardo Araújo desenvolvem trabalhos dessa natureza. Esses poetas continuam expandindo as possibilidades de gerar poesia com o auxílio do computador incluindo som, imagens e animações aos poemas.


Atualmente, independente do conhecimento técnico das ferramentas computacionais, a tela do computador e o teclado tornaram-se pontos de partida para a experiência de leitura, produção, apreciação e divulgação de poesia.

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