Leonilson
(1957-1993)
Acho
que ninguém marcou mais meu desejo de me tornar artista do que Leonilson. Nos
anos 1980, todo mundo que pensava arte queria saber o que ele falava, quais as
técnicas e processos que usava e tudo o que ele pensava sobre a vida. Numa
época em que o confessional parecia tão fora de moda e a pintura era tão
atacada, ele expôs uma arte que se confundia com sua própria vida, fazia o que
sentia, pintava desenhando, pintava bordando, pintava escrevendo, pintava
vivendo.
As ruas da cidade – acrílica sobre lona - 1988
O corpo do artista é motivo dominante em sua obra, sobretudo,
o coração. Não é à toa que Adriano Pedrosa diz que todos os trabalhos de
Leonilson, quando não são metáforas do seu coração, são metonímias de seu
próprio corpo. No entanto, expor o coração pode ser um ato doloro. O artista
expõe sua intimidade compreendendo, sem ingenuidade, que arte também é
mercadoria e que o coração do artista tem que suportar ser colocado à venda.
Os pensamentos do coração - acrílico sobre lona - 1988
Em “Voilà mon coeur”, de 1989, Leonilson oferece seu
coração ao espectador: “eis meu coração, ele lhe pertence”. Numa referência a
Jesus Cristo que deu seu coração para João Batista e disse: “aqui está meu
coração, faça dele o que quiser”. Esse pequeno, frágil e precioso quadro, de
apenas poucos centímetros, coberto com gotas de cristal, é oferecido ao
espectador, que pode estilhaçá-lo, demonstrando os perigos de se expor ao
público.
Voilà
mon coeur (frente e verso) - bordado e cristais sobre feltro - 1989
José
Leonilson Bezerra Dias, Leonilson, nasceu na cidade de Fortaleza, Ceará, em
1957 e morreu jovem, na cidade de São Paulo, em 1993, em consequência de
complicações relacionadas à AIDS.
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