Total de visualizações de página

segunda-feira, 19 de março de 2012

voilà mon coeur, il vous apartien

Leonilson (1957-1993)

            Acho que ninguém marcou mais meu desejo de me tornar artista do que Leonilson. Nos anos 1980, todo mundo que pensava arte queria saber o que ele falava, quais as técnicas e processos que usava e tudo o que ele pensava sobre a vida. Numa época em que o confessional parecia tão fora de moda e a pintura era tão atacada, ele expôs uma arte que se confundia com sua própria vida, fazia o que sentia, pintava desenhando, pintava bordando, pintava escrevendo, pintava vivendo.
As ruas da cidade – acrílica sobre lona - 1988

            O corpo do artista é motivo dominante em sua obra, sobretudo, o coração. Não é à toa que Adriano Pedrosa diz que todos os trabalhos de Leonilson, quando não são metáforas do seu coração, são metonímias de seu próprio corpo. No entanto, expor o coração pode ser um ato doloro. O artista expõe sua intimidade compreendendo, sem ingenuidade, que arte também é mercadoria e que o coração do artista tem que suportar ser colocado à venda.

Os pensamentos do coração - acrílico sobre lona - 1988

            Em “Voilà mon coeur”, de 1989, Leonilson oferece seu coração ao espectador: “eis meu coração, ele lhe pertence”. Numa referência a Jesus Cristo que deu seu coração para João Batista e disse: “aqui está meu coração, faça dele o que quiser”. Esse pequeno, frágil e precioso quadro, de apenas poucos centímetros, coberto com gotas de cristal, é oferecido ao espectador, que pode estilhaçá-lo, demonstrando os perigos de se expor ao público.
Voilà mon coeur (frente e verso) - bordado e cristais sobre feltro - 1989

            José Leonilson Bezerra Dias, Leonilson, nasceu na cidade de Fortaleza, Ceará, em 1957 e morreu jovem, na cidade de São Paulo, em 1993, em consequência de complicações relacionadas à AIDS.

Nenhum comentário:

Postar um comentário