“A única finalidade aceitável das atividades humanas é a
produção de uma subjetividade que enriqueça de forma contínua sua relação com o
mundo” (Guattari)
Flávio
de Carvalho (1899-1973)
Depois
da segunda metade do século XX, manifesta-se, com maior intensidade, uma
corrente de ideias experimentais que propõe introduzir uma relação mais
imediata entre arte e público, com o objetivo de fazer o espectador participar
na própria elaboração da obra, fazendo-o partilhar do tempo da criação.
De
um modo geral, práticas muito difundidas nas décadas de 1960 e 1970, como
assemblage, ambiente, land art, fluxus, povera etc., buscam o impacto social.
De um lado, querem fugir do mercantilismo existente na arte e na sociedade, do
outro lado, não se conformam com as formas tradicionais da pintura e da
escultura, e desejam incluir na arte todo objeto cotidiano: elementos reais e
os sujeitos situados de maneira casual em um ambiente e suas vivências.
Todas
essas práticas baseiam-se em fazer com que as pessoas saiam de suas rotinas e
vejam uma vida diferente. Elas incitam a produção de uma vida cotidiana
enquanto obra de arte, opondo-se à reificação e à divisão da experiência em
pequenas unidades separadas. Nesse sentido, há uma demanda para que o sujeito
não seja apenas um espectador, mas que, também, participe da obra. Ou seja, a
participação do público é fator chave na ativação ou efetivação de tais
propostas.
No
Brasil, muito antes desses experimentos relacionais dos anos 1960 e 1970, ou
seja, da ênfase nas trocas sociais como meio de realização de propostas
artísticas, Flávio de Carvalho já buscava uma maior relação entre arte e
público. Antes da consolidação do termo “performance”, Carvalho utilizava a
palavra “experiência” para denominar suas práticas interdisciplinares,
desvinculadas das categorias artísticas tradicionais.
Em
1931, Carvalho realiza sua “Experiência No. 2”. Nela, o artista caminha na
contramão do fluxo de uma procissão de Corpus Christi, mantendo um boné na
cabeça, o que na época era considerado extremamente ofensivo. O artista só não
foi linchado na ocasião graças à intervenção da polícia. Flávio de Carvalho
resume essa experiência na tentativa de testar a in/tolerância da comunidade
religiosa.
Em
“Experiência No. 3”, em 1956, bem aos padrões dos happenings — cujo conceito
começava a se sedimentar nos Estados Unidos —, o artista desfilou pelo centro
da cidade de São Paulo com seu “new look”, ou traje de verão masculino. Segundo
Carvalho, esta seria a roupa mais adequada ao clima tropical: saia, blusa de mangas
fofas, chapéu de organdi e meias arrastão.
A
atitude questionadora de Flávio de Carvalho sem dúvida influenciou gerações de
artistas brasileiros posteriores. Eduardo Kac (mais conhecido pela
criação de GFP Bunny, a coelhinha fluorescente), no começo dos anos 1980, em
referência à performance de Flávio de Carvalho, realiza o seu “poema pornô”, em
que desfila por vários locais da cidade do Rio de Janeiro usando uma mini-saia
rosa choque e declamando poemas “pornográficos”.
adorei o blog me ajudou muito em uns trabalhos :)
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